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segunda-feira, 25 de junho de 2007

O Relógio


À luz inestética apoiada na do Sol
Plenamente escondida
Sento-me numa cadeira pesada e clássica
Condizendo com a mesa de pedra escura
E escrevo.
Sinto-me doente e escrevo.
Estarei realmente doente?
Ou demasiado saudável
Que a saúde me pareça debilitada?
Olho para a rua
Através do vidro da montra
E vejo a cidade.
Lá fora, o correr… A pressa…
Os agasalhos pesados e quentes
Das gentes que por ali andam
É tudo tão escusado
Mas tão inevitável.
Ao fundo, o Tejo observa, passivo
Embrulhado no frio dos dias de Dezembro.
E o eléctrico passa no eco
Das melodias natalícias.
Os passos aumentam, apressando os corpos…
Cá dentro, sai uma bica.
Cheia. Escaldada. Italiana.
O engraxador debruça-se sobre os sapatos
Dos senhores idosos
Frequentadores do bar
E conta uma história antiga ao cliente
Coisas lá da terra…
O cheiro activo da graxa
Encosta-se ao odor dos cachimbos
Do cliente ali sentado
Em conversa de prosa.
Eu continuo a escrever…
Contemporaneamente doente.
Doente de ruídos surdos
Cheiros a nada e pressas de tudo
De falas e gestos inúteis
Em mim, tão deslocados.
Sinto sede de emoções, carências, solidão…
E lá fora, as rodas, os passos, o cansaço…
E até o Tejo, de tão demasiado perto
Não sente a sede!
Convido-me a partilhar comigo
O jogo do Presente
Para ganhar a água do Futuro.
E o acordo inebriante é intenso de tão frágil…
O odor dos cachimbos aumenta
Colando-se às vestes.
O Relógio clássico e oval
De números romanos
Bate as 13 horas.
A precisão do relógio
Contra a natureza indestrutível da matéria
Em busca do ritmo da vida…

Manuela Fonseca

1 comentário:

Anónimo disse...

Que lindo amiga,
Consegui imaginar e ver tudo o que se passava neste poema, é de facto assim! O relógio da nossa vida, sempre a contar, sempre a acrescentar horas, dias, anos á nossa vida!
Adorei!
Lurdes