quinta-feira, 28 de junho de 2007
O MEDO
O medo chora
Sorri
Fala de Amor
Guarda poemas
Versos d’amor
Cartas apaixonadas
Dentro do corpo
Do medo que mostra
Está só
Vive embriagado
Com o tempo da mudança
Que nunca mais chega
Pétalas acariciam
A solidão sentida
Mas não sente a dor
Do abandono
Porque o Amor é mais forte
Que a solidão
O medo
Tem medo que o Luar
Deixe de brilhar
Que o céu
Mude de cor
Tem medo
De não ser amado
Mas não tem medo
De ser o medo do Amor!
Manuela Fonseca
Entra nas Arenas!
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Bandeira de Vendavais
Longe do racional
Urge a Pátria do meu ser
Caminho lento e corajoso
Entre ruínas e ervas bravas
Bandeira de vendavais
Pano secreto
Da coragem sufocada
Oculta em aparências inúteis
Que se exibe
Num punhado de sentimentos
E tempestades de frustração
No momento da derrota
Iço a bandeira aos céus
Orgulhosa e prepotente
Num misto de tolerância e espaço
Inventados por lágrimas sentidas.
Manuela Fonseca
terça-feira, 26 de junho de 2007
segunda-feira, 25 de junho de 2007
No Limiar das Palavras
Palavras ditas
E reditas
Eco transcendente
Da voz que grita
Esgar único de um rosto firme
Sim…
Talvez nos encontremos
No limiar dessas inúteis palavras
Porém, tão longe…
E na pressa de nos abraçarmos
Inventar-nos-emos
De secretos desejos
Profundamente alojados
Em crianças descalças
Curiosas de amor
Chorando palavras cheias
Molhadas em adágios de timidez
Ou talvez, em bichos vernáculos
Vindos de guerras semeadas
Onde as espigas já eram cinzas recentes
De searas semelhantes
Sim…
E de tão longe…
Talvez nos aproximemos ali
No limiar das palavras.
Manuela Fonseca
O Relógio
À luz inestética apoiada na do Sol
Plenamente escondida
Sento-me numa cadeira pesada e clássica
Condizendo com a mesa de pedra escura
E escrevo.
Sinto-me doente e escrevo.
Estarei realmente doente?
Ou demasiado saudável
Que a saúde me pareça debilitada?
Olho para a rua
Através do vidro da montra
E vejo a cidade.
Lá fora, o correr… A pressa…
Os agasalhos pesados e quentes
Das gentes que por ali andam
É tudo tão escusado
Mas tão inevitável.
Ao fundo, o Tejo observa, passivo
Embrulhado no frio dos dias de Dezembro.
E o eléctrico passa no eco
Das melodias natalícias.
Os passos aumentam, apressando os corpos…
Cá dentro, sai uma bica.
Cheia. Escaldada. Italiana.
O engraxador debruça-se sobre os sapatos
Dos senhores idosos
Frequentadores do bar
E conta uma história antiga ao cliente
Coisas lá da terra…
O cheiro activo da graxa
Encosta-se ao odor dos cachimbos
Do cliente ali sentado
Em conversa de prosa.
Eu continuo a escrever…
Contemporaneamente doente.
Doente de ruídos surdos
Cheiros a nada e pressas de tudo
De falas e gestos inúteis
Em mim, tão deslocados.
Sinto sede de emoções, carências, solidão…
E lá fora, as rodas, os passos, o cansaço…
E até o Tejo, de tão demasiado perto
Não sente a sede!
Convido-me a partilhar comigo
O jogo do Presente
Para ganhar a água do Futuro.
E o acordo inebriante é intenso de tão frágil…
O odor dos cachimbos aumenta
Colando-se às vestes.
O Relógio clássico e oval
De números romanos
Bate as 13 horas.
A precisão do relógio
Contra a natureza indestrutível da matéria
Em busca do ritmo da vida…
Manuela Fonseca
NÃO!
Não te rias!
Não faças do teu sorriso
A dor contorcida do meu rosto
Não me aches no vazio
Das tuas noites
Com nomes estranhos
Desconhecidos
Colados ao meu ouvido
Não me conheças sozinha
Nas multidões
Gritando pedaços
De um gesto dissipado
Não chores por mim
Quando eu não estiver
No seio do teu Tempo…
Não me digas nada!
O silêncio é belo
E ultrapassa-me na voz trémula
De um minuto fugaz.
Não te despeças de mim
Quando a Saudade já não estiver
Não!
Não me abraces!
Manuela Fonseca
domingo, 24 de junho de 2007
2012 - Ano do Tédio
No início do ano 2012
As Letras desabaram
Sobre o planeta magistral da mímica
Homens cingidos ao Bronze
Manipulados por criaturas
De térreas vontades
Desdobraram a esquina ecológica
Do seu pensamento
E soltaram as Bestas
Da Sabedoria
Era o sentido elevado
Da objectividade assumida
Em seres medíocres
Suprema reacção medieval
Dos que já declamaram a fome
Em vida!
Mas a utopia espacial
Do Homem-Bronze
Ainda não decifrara
O enigma
Do ortodoxo quotidiano
E a guerra continuava
Nos Trópicos de Câncer
Agora rasgados
Pelo Mar Vermelho
De um continente perdido
Côncavo e convexo
Fizeram um filho
À sombra da consciência primitiva
Deram à Luz grandes frases poéticas
Com os acentos circunflexos
Em palavras esdrúxulas
Cuspiram sorrisos à Deusa da Escrita
E desenharam Ursas Menores
Com os lábios sujos de suor
Sobreviventes de uma era esquecida
Mas não derrotada!
Afinal,
Os Homens-Bronze
Eram só filhos da mãe
Descendentes do Tédio!
Manuela Fonseca
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Menina das Tranças Loiras
Menina das tranças loiras
Que caminhas à beira da estrada
Levando sonhos embrulhados
Em tule azul celeste
Não vês como é grande e estranha
A saudade que paira sobre a tua cabeça
Ora descobre o Sol
Ora descobre a Chuva...
E tu, menina das tranças loiras
Desdobras a saudade ao Sol
Enquanto caminhas ansiosa
Na direcção do cais
Apesar de saberes que lá
A Chuva cai
E os sonhos não voltam.
Sentada à beira do cais
Vês o atracar de navios
Abarrotados de gente
Que vai para o lado de lá de ti
Subitamente, o Mar revolta-se
Com a audácia dos teus sonhos
E a Chuva cessa!
Olhas para trás
E desejas correr
Em busca do momento perdido.
Mas é tarde...
Ficas à beira do cais
Olhando para os navios
Estáticos e vazios.
Abres as mãos
E deixas deslizar por entre os dedos
A saudade inútil
Que outrora desdobráste ao Sol
Como sendo destroços de um naufrágio
Lançados à praia...
Manuela Fonseca
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Passa a gaiata
A Casa
Do lado direito da estrada
Recentemente alcatroada
Existe uma casa
De pedra cinzenta
Com profundas raízes
Abraçadas ao chão
Daquela terra esquecida no Tempo
Geme baixinho
A solidão e o frio
Retidos na lareira
Já sem vida.
Nas paredes de pedras
Bem amontoadas
O entardecer bocejava
Em tempos idos
No alpendre
Atafulhado de palha húmida
Cheira-se o bafio
Nascido ao longo dos anos.
Ao Sul
O poço secou
E na eira adormecida
Fragmentos de antigos cereais
Rastejam ao sabor do vento
Ao campo extenso da seara
O castigo é a secura
E à beira da casa
Um pomar
De frutos estéreis
Tombam aos olhares
Ervas daninhas
Nascem descontroladamente
Envolvendo a casa
Num profundo abandono.
A Casa…
Dez palmos de solidão!
Manuela Fonseca
Deixem-me recordar...
Sento-me na Poltrona do Tempo
E cheia de paciência
Ponho-me a olhar
Para o dia de ontem…
Recordo frases frias
Ditas por alguém
Que me era estranho à alma.
Relembro vagamente
O primeiro beijo que me deram
Mas não o verdadeiro.
As cantigas da minha infância
Fazem-me chorar de pena
Das cantigas que não ouvi…
No jardim público da minha terra
Os meus filhos ganham o jogo
Que eu nunca aprendi a jogar.
A rua onde eu morei
Já não é a mesma
Mas o seu nome
Ainda se mantém.
O pátio onde eu cresci
Alegre de flores
E cantares de canários
É hoje um prédio cinzento
Estranho ao chão do pátio.
As bonecas que me entreteram
Perderam-se no tempo
Como os sonhos que sonhei…
E naquela fotografia
Envelhecida pelos anos
Tenho o sorriso
Daqueles que o sorriso desconhecem.
Deixem-me recordar
Sentada na minha Poltrona
Sem Tempo…
Manuela Fonseca
Tu és especial...
Estava sem sono. E quando olhei para aqueles dois gatinhos entrelaçados num sono profundo, comovi-me! E lembrei-me das noites passadas na conversa onde nada era proibido, todos os assuntos vinham à baila.E ríamos. Ríamos muito, tirávamos fotos, ficávamos sérias, falávamos sussurrando e ouvíamos o "Oceano Pacífico". Foi tão gira aquela noite em que bebemos o leite todo, até acabarem os pacotes no frigorífico! Tu sempre gostaste do tempero do meu leite: Nesquik com açucar. E as torradas? Ai, as torradas! Sabiam sempre tão bem às 02h da manhã... Comíamos torradas com a mesma estupidez dos desordeiros que dão pontapés nos contentores do lixo às 03h da manhã e acham que são uns heróis! Tudo o que queríamos era beber a vida, sem culpas nem passados e muito menos pensar em futuros desconhecidos. Eu achava que escrevia umas coisas e continuei a escrever durante anos...
E aquela noite em que fomos ao Castelo de S.Jorge e comemos bolos na pastelaria do Rossio? Andei tanto nessa noite! Acho que nunca andei tanto e tão depressa, até então! E depois no Bora-Bora... Saímos de lá com uma flor na mão que nos deram à saída.
As conversas que nós tínhamos eram sempre tão cheias, disparatadas, sérias, às vezes, sinistras. Nessa noite, deu-nos a fome e fomos roubar couves ao quintal do teu pai. Que delicioso caldo verde! O caldo verde é sempre mais delicioso às 03h da manhã!
Hoje, a noite não tem Lua. Está de luto. Um luto belo e doentio. Por que será? Mas que disparate...
Não tenho queijo no frigorífico... Apetecia-me queijo da Serra com pão espanhol. Ai, que delícia! Sinto-me tão bem a comer pão com queijo... O resto, naquele momento, não me importa. Só o sabor variado do queijo. E sou muito exigente com o pão. Pois sou! Não gosto de pão de plástico! Gosto de pão autêntico, como tudo na vida.
Ah! Já te contei que fui ao Museu do Pão, em Seia? Adorei! Eu gosto de museus assim. Museus do povo. Coisas nossas.
Que frio, tenho os pés gelados. Talvez um chá quente resolvesse esta minha falta de sono. Não sei... Nem nunca vou saber porque não vou à cozinha encher um púcaro com água e meter lá dentro um pacote de chá de cidreira ou camomila... Ou talvez seja fome. Eu disse fome??? Sei lá eu o que é fome! Sei o que é apetecer comer, mas fome... Não! Sabes amigona, queria pegar numa fatia do céu e dividi-la pelos povos que morrem à fome todos os dias e minutos e segundos.
Tu és especial. És a melhor amiga. E tens um feitio que eu nem te digo! Mas és especial... Nunca ficas empanturrada com nada, só de pastéis de nata. Quentes, estaladiços... Seis pastéis de nata consolam-te. O teu marido desilude-te. Pelo menos, é o que estás sempre a dizer cada vez que ele não é perfeito como tu gostarias que ele fosse...
Será que os pastéis de nata são sempre perfeitos?
Manuela Fonseca
22/11/2006
E que felizes nós fomos!
segunda-feira, 18 de junho de 2007
Regresso à Insurreição
domingo, 17 de junho de 2007
TARDE
sexta-feira, 15 de junho de 2007
O 10º Mundo
As searas não existiam
E o pão não cheirava a terra
A mãe-velha embalava os ossos
Mal embrulhados
Na carne negra, suja
Beijada de artrópodes.
A insuficiência
Espreitara o 10º mundo
E as crianças brotavam
Sob o signo maligno
Da Fome.
Era tarde…
A noite descera sobre a mãe-velha
E no chão agreste
Nu de sementes
Picavam-lhe os pés inchados
De lágrimas, dores
E revoltas!
Manuela Fonseca
quinta-feira, 14 de junho de 2007
Se, ao menos...
Se, ao menos, eu soubesse ser feliz!
Se, ao menos, eu me contentasse com a distância!
Se, ao menos, eu pudesse
Encostar a palma da minha mão
No teu rosto
E sorrir nos teus olhos!
Se, ao menos, eu partilhasse do teu perfume
E me enroscasse nele!
Se, ao menos, eu te visse ao longe
E soubesse que eras tu
Pelo teu andar que desconheço!
Se, ao menos, eu conhecesse
O sabor dos teus lábios!
Se, ainda, ao menos, eu pudesse amar-te...
Manuela Fonseca
Do outro lado da alma
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