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sábado, 28 de agosto de 2010

Não te detenhas em mim




Não te detenhas em mim
Deixa apenas que me enrosque
No teu sofá verde água
E poise o rosto no teu colo
Sentindo as tuas mãos
Deslizarem pelo meu cabelo
Que escorrega sem pressa
Descobrindo os meus ombros
Despidos de sedas orientais

Um dia…

Visitar-te-ei todas as noites
Sem nunca me veres
Mas sempre me sentirás.

Manuela Fonseca

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Na intensidade dos gestos


Na intensidade dos gestos
Só sei navegar
Pela ausência do mar
Que há muito tempo
Me deixou em choro
Compulsivo

Navego em teu olhar
Descubro segredos tardios
Pardos de entender
Palavras esculpidas
Sentadas à beira da vida
Que abriste docemente

Num golpe profundo
Parti o meu navegar
E logo me perdi
Arrependi
Arrefecendo o horizonte
Rude de caminhos
Fraco de sorrisos
Forte de outros amores

Diante do meu último olhar
O teu rosto fui buscar
E a partilha era feita de ternura
Onde eu já não cabia
Nas vidas em que fui navegar
Para a ti te as entregar

Manuela Fonseca

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma metáfora é tudo isto


Uma metáfora é tudo isto e ainda (deixa ver se me recordo) dos sorvetes que comia num lambuzar constante de cara virada ao contrário para ver os olhos velhinhos da minha avó que me espiava dentro dos 80 anos e me comia os restos que me sobravam do prato para eu não levar pancada e também da sua própria fome de comeres bem confeccionados.

Manuela Fonseca

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esboço de Alzheimer II


Pendurada na sua própria dor
Desfolhava as mágoas guardadas
Como quem reza um terço
Esperando um milagre
Que nunca chega por falta de fé anunciada

O olhar parou no degrau do passado

Já nada esperava
E a esperança dançava-lhe
Nas mãos trémulas
A dança eterna
Do destino prometido

Abriu um livro ao acaso
E com a voz entorpecida pela fatalidade
Bebendo lágrimas de medo
Ela leu:

“Sê como a árvore do sândalo que perfuma até o machado que a corta”

Manuela Fonseca