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terça-feira, 17 de abril de 2012

CORRUPÇÃO


Dentro de uma estrada mística



De buracos preliminares



Aconteceu o percurso vazio e rasgado



Trânsito ausente



De sinais e semáforos







Andei os quilómetros do Futuro



Com sapatos de Ontem



Tropecei nas zebras relevantes



E atirei-me para debaixo



Das rodas quadradas



De um veículo vermelho e perverso







Mais tarde…







No asfalto verde nojento



Ficou a cor imunda da alma



Numa desconhecida poça



De indiferença e desprezo.





Manuela Fonseca

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pedaços de vida...


Com a mão trémula, desviei a cortina da janela de madeira escura e vi aquelas crianças na rua a jogarem à bola com a mesma alegria com que tu me beijavas o rosto, ao chegares a casa. O meu sorriso, igualmente trémulo, estava hoje emoldurado pelas rugas vincadas do tempo. A minha respiração embaciava o vidro quadrado da janela, única passagem que me restava para o mundo exterior. Com um gritinho de felicidade deixei a cortina deslizar, ajeitando-a até onde podia. Rodei a cadeira de rodas na direção do nosso casamento, pendurado há sessenta anos, na parede da sala de jantar. Como eras belo! O teu olhar apaixonado ofuscava a pureza do meu vestido de noiva.