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sábado, 30 de janeiro de 2010

O ROSTO E AS MÁSCARAS


Quando um poeta inferior sente, sente sempre por cadernos de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas - tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassílabos como usaria luto na vida.

O meu mestre Caeiro foi o único poeta, inteiramente, sincero do mundo.

(1935?)

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Fernando Pessoa tinha uma personalidade muito própria (para não lhe chamar outro nome...).
E não poupava ninguém. Nem o Camões escapou...
Querida amiga, bom resto de semana.
Um beijo.