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terça-feira, 6 de abril de 2010

" O Último Beijo " - Lançamento do meu livro


“Numa caixa quadrada com tampa, de madeira pintada e uma argola em metal, as fotografias acumulavam-se baralhadas, sobrepostas, misturadas. Em desordem. Desarrumadas? Ela dizia que não, que essa era a única arrumação possível dos vestígios da vida, impressos em fotografias. Que arrumar por datas, fazer sequências, organizar um percurso de instantâneos, construir um álbum, seria como abrir uma auto-estrada. Que o trânsito da vida era outro.
- Achas que a nossa vida é uma sucessão de páginas que se voltam, de folhas que se viram?
E com um olhar ausente, numa perda infinita:
- Não. A vida não se traça, não se decreta. A vida corre, escorre. Sobre a vida discorre-se, tão-somente. Ou se conta, ou desaparece em qualquer data, para sempre, no meio de uma cronologia, eventualmente certa.
Calou-se. Acompanhava-a no silêncio, com sentimentos magoados. Começou a Primavera; nos cachos de glicínias, que nasceram primeiro do que as folhas como se fossem independentes e se exibissem por inteiro, translúcidos e suspensos, no principio de Abril. Até parecia que tinham nascido todos ao mesmo tempo, num mesmo momento, de um dia para o outro. Pura magia, essa grinalda de flores ao longo do antigo e ressequido tronco da sua planta trepadeira.
Alguns cachos, porém, já estavam caídos no passeio. Caminhávamos. Ela apanhava do chão, vagarosamente, um cacho intacto e deu-lhe, com os dedos, voltas de círculo, de ciclo. Passado algum tempo, como se falasse sozinha, no meio de uma praça de província, ao começo da manhãzinha, ainda sem vivalma por perto, ela pegou no princípio da conversa.
- Portanto numa caixa de fotografias, tudo pode começar a qualquer momento conforme a fotografia que vem ao de cima. A verdade é que há muitos anos não abro essa caixa e que, desde então, nego a fotografia como a fiel memória de algum vestígio humano. Prefiro um botão de vestido, o desenho ou a letra no caderno de escola. Prefiro, é uma maneira de dizer…
Nesse dia, nessa data, já a noite descia pelo fim da tarde. Depois do que não disse, claramente, ela entrou num jardim de crianças e pousou o cacho de glicínia no assento de um baloiço que ficou a balançar, ninguém sabe por quanto tempo…”


Dia 17 de Abril, pelas 19 horas, no Auditório do Campo Grande Nº 56, Lisboa.

Até já, amigos*

2 comentários:

Maria disse...

Até lá, Manuela!

Beijos

Anónimo disse...

pois é ,minha maninha ,mais uma vez por aqui passo ,olhando, pesquisando,observando ,minha mente caminha de imediato para ao pé de ti,e hoje dia das mães ,tu ,eu, e muitas como nós ,não conseguem ter a felicidade de um carinho tão profundo como nós,,,mas passamos um pouco ao dialogo do livro,hehehehehehehe ,mana como eu me divirto ,como me ri ao recordar tudo o vivemos ,nossos dialogos ,risos,segredos,heheheheh ai ,ai ai ai ai ,manaaaaaaa!!!!!!!! tu muito aflita ,heheheheheheh pois minha flor ,os tempos vão passando e as saudades vão sendo cada vez mais ,,,,,,mas a vida assim nos proporciona ,com toda esta converssa só quero dizer-te e nunca é demais para dizer que és uma MULHER,uma MÂE ,e uma AVÒ muito especial,por tudo isso,te desejo o melhor do MUNDO ,,,,,,,,TE AMO MINHA MANA